O Institute for Scientific Information ™ lança relatório sobre o impacto da pesquisa na América Latina

O panorama da pesquisa na América Latina mostra um aumento significativo na produção científica da região. No entanto, várias questões precisam ser consideradas a fim de aumentar o impacto da pesquisa e das revistas na região, promover projetos de maior impacto e aumentar os esforços de colaboração, que permitiria, além de elevar a qualidade da pesquisa, resolver problemas regionais urgentes. A América Latina é uma região vasta e diversificada de extraordinária importância ecológica, que tem sido uma fonte de produtos e inovações com impacto econômico e social por séculos. É o que afirma o Global Research Report: América do Sul e Central, México e Caribe [1].

O novo relatório desenvolvido por analistas do Institute for Scientific Information (ISI)™ e publicado em português mostra o panorama de pesquisa de 34 países da América do Sul e Central, México e Caribe, destacando os benefícios de uma organização regional de pesquisa colaborativa. Este relatório, além de explorar os países com maior influência na produção científica regional, analisa o potencial da comunidade de pesquisa para desenvolver competências e enfrentar uma gama mais ampla de desafios tecnológicos, de saúde, econômicos e sociais.

Síntese das análises

O relatório analisa o período desde 1981 e análises mais detalhadas da atividade recente, e examina a influência da linguagem no conteúdo.

• O número de trabalhos de pesquisa acadêmica (artigos e resenhas) indexados na Web of Science™ cresceu mais rapidamente na região do que na maior parte do resto do mundo. Mais de três quartos das pesquisas da região são realizadas na América do Sul.

• A comparação entre o número de artigos nos idiomas inglês, português e espanhol na Web of Science e na SciELO Citation Index™ regional mostra um equilíbrio linguístico semelhante, embora a SciELO tenha muito menos artigos de colaboração internacional em inglês.

Existe uma queda evidente no número de artigos escritos em português, visto que os pesquisadores no Brasil procuram cada vez mais publicar em revistas de língua inglesa.

• A contagem de publicações colaborativas e nacionais mostra que a colaboração regional permanece muito baixa, conforme demonstrado tanto pela Web of Science quanto pela SciELO. O Brasil é de longe o maior produtor de pesquisa e um dos 10 entre 34 países, incluindo Cuba e México, que responde pela maior parte da produção regional.

De 2016 a 2020, cinco países publicaram mais de 25.000 artigos, outros 12 publicaram entre 1.000 e 10.000 artigos, enquanto os outros 17 países publicaram menos de 200 artigos por ano em média.

• A diversidade de tópicos de pesquisa aumentou na maioria dos grandes países, impulsionada tanto pelo crescimento nacional quanto pela colaboração internacional.

Os pontos fortes específicos, identificados por meio da análise do uso de revistas e modelagem de tópicos de citação, incluem ciências ambientais e da vida, medicina tropical, astronomia, educação e literatura romântica. A Tabela 1 resume as categorias de revistas da Web of Science nas quais os artigos de pesquisadores latino-americanos são relativamente frequentes. Outra perspectiva sobre as especialidades de pesquisa vem de uma análise dos Citation Topics do InCites. Os Citation Topics, desenvolvidos pelo Institute for Scientific Information (ISI) na Clarivate e pelo Center for Science and Technology Studies (CWTS), Universidade de Leiden (ver Waltman & van Eck, 2012) são um esquema de classificação no nível do documento que utiliza o relacionamento das citações para reunir documentos em distintos grupos de materiais relacionados. Esses grupos, que se baseiam em citações compartilhadas e são independentes do conteúdo do artigo e da categoria da revista, representam domínios nos quais os autores citam ativamente os artigos uns dos outros. Os conjuntos são divididos em três níveis de granularidade: macro (10 tópicos), meso (326 tópicos) e micro (2.444 tópicos) para permitir análises multinível. Esse conjunto de tópicos é marcado manualmente (no caso de macro e meso) e algoritmicamente (no caso de micro) – com base em seu conteúdo agrupado – para identificar seu tópico predominante.

.A imagem abaixo apresenta os Citation Topics dos sete maiores países em porcentagem de sua produção nacional total (2009-2018).

• Os Perfis de Impacto são evidências da melhoria progressiva no impacto das pesquisas comparativas internacionais das maiores economias regionais de pesquisa e, as tendências anuais indicam que o impacto médio nacional agora está agrupado em torno da média mundial. Os artigos escritos em Cuba, em particular, mostraram uma mudança acentuada em direção às categorias de citação superiores.

• Uma auditoria de colaboração país por país revela que a colaboração regional é uniformemente baixa, chegando a apenas 10% da colaboração na Nicarágua e na Bolívia. O Brasil é o país que mais colabora na região. De um total de 127.400 artigos colaborativos, o Brasil tem 10.000 artigos que incluem um coautor regional. Em outros lugares, os Estados Unidos, Espanha, Alemanha, França e Reino Unido colaboram com as principais economias regionais da América Latina. A colaboração da China está crescendo, ao dobro da taxa de outros países (Tabela 2).

• A interação entre o impacto e a colaboração médios da citação mostra ter uma influência dominante nas economias menores. É necessário cuidado na interpretação das cifras médias, e os dados desconstruídos mostram-se mais informativos para fins de política.

• O Acesso Aberto (Open Access – OA em inglês) é uma parte bem-sucedida e em expansão dos padrões de publicação regionais, mas as taxas de citação de artigos OA ainda não são tão altas quanto em outras regiões.

• Ainda segundo o relatório, é muito preocupante que a colaboração em pesquisa na região continue extremamente baixa. Isso, sem dúvida, sugere a necessidade de uma melhor organização de pesquisa transnacional que possa reunir uma parte dos recursos nacionais para promover programas e projetos compartilhados para benefício mútuo. Uma rede de pesquisa pan-americana liderada pelas maiores economias de pesquisa poderia ser de grande benefício para todas as partes e aumentar o impacto e a consciência das realizações intelectuais e acadêmicas da região. A colaboração dentro da região, bem como com o resto do mundo, também melhorará a qualidade da pesquisa científica, acelerará o acesso a novos mercados e permitirá a divisão dos custos financeiros da pesquisa.

Em suma, nos referimos ao benefício potencial de uma organização regional de pesquisa ao permitir o treinamento e o reforço das capacidades e enfrentar os desafios comuns.

==REFERÊNCIA ==

ADAMS, J.; PENDLEBURY, D.; POTTER, R.; SZOMSZOR, M. Global Research Report: América do Sul e Central, México e Caribe. Institute for Scientific Information, 2021. Disponível em: https://discover.clarivate.com/ISI_LatAM_Report_Brasil Acesso em: 02 out. 2021.