Manual de edição em jornalismo científico: saiba mais sobre isso

Apresentamos aqui alguns trechos reproduzidos do Manual de edição em jornalismo científico publicado pelo Massachusetts Institute of Technology no âmbito do Programa Knight de Jornalismo Científico.

Porém, vale a pena ler a obra por completo e que se encontra publicada em português [1].

A ciência avança a passos lentos — e a boa ciência, mais devagar ainda. Se há uma mensagem abrangente neste capítulo, é que os melhores cientistas são cuidadosos e metódicos, indo passo a passo da hipótese à confirmação. O jornalismo, em especial o jornalismo diário, tende a operar numa lógica diferente e mais rápida, enfatizando avanços importantes que atendem a um limiar subjetivo do que é uma notícia.

Por isso, fazer jornalismo de ciência pode ser um desafio — primeiro, para discernir em que estágio do processo de pesquisa um estudo específico se enquadra e, em seguida, para envolver o público e explicar claramente por que esse único passo, essa nova evidência, afinal, importam. Resultados de artigos científicos relatados sem contexto também podem corroer a confiança dos leitores tanto na ciência quanto no jornalismo.

Como a Ciência é Financiada

Às vezes, a ciência é apresentada como um empreendimento “puro”, livre de preconceitos e pressões que outros profissionais porventura possam sentir. Porém, a ciência é conduzida por cientistas, e cientistas são pessoas sujeitas às mesmas tentações e problemas que qualquer outro ser humano. Uma parte significativa da ciência mundial é feita em universidades, que muitas vezes funcionam como empresas.

Portanto, como em qualquer outro tipo de jornalismo, também é importante seguir o dinheiro na cobertura jornalística. Quem financiou aquele trabalho? E por quê? Ao ler um estudo, “é sempre recomendável olhar para a seção de agradecimentos e ver quem financiou a pesquisa”, diz Roxanne Khamsi, editora e redatora para publicações como Nature e Wired.

O Processo de Publicação – Por que a publicação de um artigo leva tanto tempo?

A resposta simples é que existe uma demora natural para examinar as afirmações de um estudo, o que periódicos de alta qualidade tradicionalmente fazem. Além disso, o processo de publicação pode variar muito dependendo da área e da qualidade da publicação. Neste ponto, devemos diferenciar entre periódicos legítimos, que descreveremos mais à frente, e os chamados “periódicos predatórios,” que ganharam essa pecha por se aproveitarem da necessidade de publicação dos pesquisadores. Essas revistas, muitas vezes com conselhos editoriais falsos, cobram taxas que variam de centenas a milhares de dólares para publicar artigos, mas não fornecem revisão por pares ou quaisquer outros serviços editoriais. Como resultado, a pesquisa contida ali não foi avaliada e não deve ser considerada confiável.

Como a Pandemia Mudou as Publicações

Antes da pandemia de covid-19, muitas publicações jornalísticas respeitadas evitavam escrever sobre os preprints, preocupadas com trabalhos que não haviam passado por uma revisão completa por pares. Mas, durante a pandemia, essas barreiras desapareceram. Não dava para esperar por todo aquele processo demorado, então cientistas e jornalistas começaram a discutir e escrever sobre preprints. Isso foi útil em alguns aspectos. Os primeiros estudos realizados em Wuhan sobre fatores de risco associados à gravidade da Covid-19 saíram em preprints, rapidamente seguidos por sua publicação em periódicos revisados por pares. Eles ajudaram as autoridades de saúde pública em outros países a se preparar e alertar residentes com certas comorbidades para serem mais cautelosos.

Mas alguns preprints criaram confusão e pânico, e semearam teorias da conspiração.

Preprints

A equipe do repositório começou a avaliar os preprints sobre coronavírus mais rigorosamente e adicionou um aviso ao site19, lembrando aos leitores e à mídia que os manuscritos trazem resultados preliminares, que não foram avaliados por outros especialistas.

Por exemplo, em janeiro de 2020, um preprint no bioRxiv alegou ter encontrado uma “semelhança impressionante” entre o novo coronavírus e o HIV e que era “improvável que esse achado fosse fortuito”. Em suma, o preprint sugeria que o novo coronavírus havia sido criado em laboratório, alimentando uma teoria conspiratória sobre suas origens. O artigo foi rapidamente17 desmascarado no Twitter18 e, antes que qualquer publicação confiável pudesse cobri-lo, o bioRxiv o retirou do repositório.

Os editores devem ser cautelosos ao designar a cobertura desse tipo de artigo não revisado e, no mínimo, avaliar um preprint com um ou dois especialistas antes de decidir cobri-lo numa reportagem.

Como Ler um Artigo Científico

Sabe aquele conceito jornalístico de pirâmide invertida, em que as informações mais importantes vêm primeiro? Os artigos científicos são exatamente o oposto. “Cientistas são especialistas em enterrar o lide no fim do artigo.” Eles começam com um preâmbulo longo e cheio de divagações que apresenta o contexto do trabalho e as implicações do mundo real (onde você vai ver aquela chamada exagerada para uma cura do câncer, talvez), percorre os métodos e só no final chega aos resultados e à discussão.

Portanto, você pode ir direto à última seção, em geral até os últimos parágrafos da discussão, para ver do que se trata o artigo. É aqui que os editores de revistas científicas pedem que os autores expliquem como o trabalho se encaixa no contexto mais amplo do campo de estudos, e quais são os pontos de atenção e as limitações — se o tamanho da amostra era pequeno, por exemplo, ou se faltam dados cruciais sobre alguns participantes.

Como Selecionar as Fontes

Pode ser difícil distinguir se as fontes realmente têm conhecimento em uma área específica e, além disso, se possuem algum interesse ou viés que vai influenciar em suas opiniões. Uma estratégia é pedir às fontes, ao final de cada entrevista, se há alguém que se deve evitar naquela área de pesquisa. Certa vez, quando entrevistei uma pesquisadora na área de prevenção de violência contra mulheres sobre estratégias baseadas em evidência para evitar esse problema, ela me disse que eu talvez devesse evitar um determinado cientista que recentemente havia sido acusado de agressão sexual.

Também é uma boa ideia dar uma olhada no currículo de uma fonte, que muitas vezes está disponível em sua página institucional (se não, pergunte se eles podem enviar por e-mail ou mensagem). Os repórteres podem verificar se a fonte ganhou algum prêmio de pesquisa ou ocupou cargos de liderança em associações profissionais. Mas também tenha em mente há quanto tempo a fonte trabalha na área: um pós-doutorando ou um jovem professor assistente pode não ter acumulado muitas conquistas profissionais, mas ainda assim ser uma ótima fonte. Os repórteres também podem verificar os artigos que o cientista publicou para ver com quem eles colaboraram.

Incerteza e Desinformação

Dois tópicos têm importância especial na edição e na visualização de matérias científicas: mostrar a incerteza e evitar a desinformação. A incerteza é um conceito crítico em matérias de temas como mudanças climáticas e pandemias globais. Barauch Fischhoff e Alex L. Davis escrevem24, “toda ciência tem incerteza. A menos que a incerteza seja comunicada de forma eficaz, os tomadores de decisão podem colocar muita ou pouca fé nela”.

Como Evitar Armadilhas de Desinformação

Como nuances e explicações podem ser facilmente desassociadas do conteúdo visual, é muito fácil para as pessoas que agem de má-fé compartilharem elementos enganosos. Minha posição padrão é simplesmente não facilitar a desinformação com um gráfico. É realmente muito fácil remover um gráfico do contexto da matéria, ou subtrair uma legenda, e divulgá-lo assim nas redes sociais. No entanto, existem áreas cinzentas, especialmente quando um gráfico foi criado de boa fé mas, como resultado de erros não intencionais ou dados revisados posteriormente, acaba por estar incorreto. Ocasionalmente, representar visões antigas (equivocadas) e novas (corrigidas) lado a lado pode ajudar os leitores a entender como erros levaram a uma análise falha e por que a interpretação mais recente é mais sólida.

O que é engajamento social

As plataformas de mídia social estão em constante mudança à medida em que as empresas de tecnologia lançam novos produtos e recursos e os usuários mudam seu comportamento e preferências. Há recursos que podem mantê-lo atualizado para ajudá-lo a encontrar as informações mais úteis. Nada é constante, claro, e o desenvolvimento de audiência é algo que deve ser aprendido continuamente. Considere este capítulo como uma versão temporária das melhores práticas e conselhos, não como o guia definitivo sobre o assunto.

Identificar sua visão estratégica, definir metas alinhadas com essa visão e, em seguida, elaborar táticas para atender as suas metas são passos que ajudarão a tomar essas decisões. Geralmente, há três áreas de negócios nas quais as redes sociais podem ajudar. Embora sejam apresentadas aqui como itens distintos, elas estão inevitavelmente interligadas:

  • Editorial: encontrar fontes, contar histórias, compartilhar artigos, postar notícias de última hora, gerar tráfego;
  • Audiência/Marketing: construção e engajamento de audiência, aumento do conhecimento da marca, promoção de produtos (assinaturas, boletins informativos, eventos, etc.);
  • Receita: gerar consumo, vender produtos, criar publicidade patrocinada, converter assinaturas.

Como Definir Seu Público 

Quem são seus leitores? Que novas pessoas você deseja alcançar? Qual conteúdo terá um apelo específico para elas e qual formato é o mais adequado? Esses são os tipos de perguntas que você provavelmente já está pensando enquanto encomenda ou edita uma matéria.

Saiba mais lendo a obra completa, disponível em acesso aberto.

== REFERÊNCIA ==

[1] MIT. Manual de edição científica Mass.: Massachusetts Institute of Technology. Programa Knight de Jornalismo Científico no MIT, 2020. Disponível em: http://ksjhandbook.org/wp-content/uploads/sites/5/2021/11/ksj-handbook-v1.6-pt.pdf Acesso: 11 maio 2022.